BAYARD C. BOITEUX O Rio volta devagar a sorrir turisticamente

Uma cidade como o Rio, que é o principal produto turístico do país, precisa ser acariciada constantemente. O carinho é a mola chave de sua sobrevivência, não só no âmbito das políticas governamentais mas na própria população, que constantemente deve demonstrar sua auto-estima. Há, na verdade, problemas que precisam de solução urgente, o caos do trânsito, em particular na zona oeste, que ganha, diariamente um novo condomínio, a falta de sinalização turística em inglês, os postos de informações turísticas, a capacitação dos policiais que trabalham em áreas turísticas e finalmente, o aeroporto internacional do Rio, para citar os principais. No entanto, floresce um boom de alegria, que começou com o Carnaval. sobretudo aquele de rua, valorizado e trabalhado pela Prefeitura, apesar dos mijões e um esforço grande das autoridades municipais em disciplinar a cidade e mantê-la na mídia, com novas conotações,como a cidade dos eventos,das grandes pré-estréias mundiais, enfim de uma cidade revigorada,apesar da dengue. Uma de minhas atividades é justamente medir a satisfação dos que nos visitam. As inúmeras pesquisas acadêmicas, realizadas por nossa equipe,no âmbito do Rio demonstram que devagar a percepção dos turistas vai mudando. A Violência urbana não aparece mais como um grande problema, sobretudo pela evolução trazida pelas upps em diversos bairros e a política de duplas na orla marítima de Copacabana,adotada pela Policia Militar. A presença efetiva dos policiais em algumas áreas turísticas é essencial para a nova visão da cidade. Precisamos também ampliar a forma como o mundo nos vê. Já sabemos que somos hospitaleiros, que nossa alegria contagia, que a prestação de serviço é adequada, embora cara e algumas vezes informal, pelo espírito brincalhão do carioca. Vamos desmitificar algumas idéias: de que chegamos sempre atrasados,que há um jeitinho para resolver qualquer problema, que pessoas importantes não são importunadas e que nossa cabeça é malhação e sexo. A preocupação com a saúde e o exercício físico se impõem numa sociedade, onde o trabalho aparece em primeiro plano e são renegados os valores do lazer. O mundo deve nos observar como uma cidade,onde se trabalha, que se pensa soluções para a sustentabilidade, em horários determinados e que se a praia está cheia, é porque pessoas entram de férias, aproveitam momentos livres e não vivem da fiscalização da natureza, termo pejorativo, que utilizam para quem teoricamente não faz nada. A cidade ganha novos hotéis e uma vontade do empresariado turístico, em construir com o poder público, uma nova sensação de crescimento ordenado. Precisamos, é claro aumentar o número de visitantes internacionais, que diminuem anualmente. A grande oportunidade é aproveitar o atual momento, com a criação de 12 grandes eventos, um a cada mês e promover efetivamente o Brasil,em mercados prioritários. Os mercados potenciais fazem parte de uma política promocional mas o ideal é aquele que responde rapidamente a campanhas que deveriam ser desenvolvidas. Tenho que acreditar no Rio, pois faz parte da minha atividade e da minha alegria de poder contribuir, de forma humilde com nossa cidade maravilhosa mas acredito que a força de um núcleo receptor está em seus habitantes,que com suas reclamações, exigências, associações de moradores denunciam, exigem mudanças e vão aprimorando o Rio. Meu otimismo requer uma dose de paciência, com os processos administrativos vagarosos, com a falta de continuidade de projetos ou ainda a negação da contribuição de administrações anteriores. No entanto,vislumbro com felicidade a nova secretaria de turismo do estado do Rio, o vigor e empreendedorismo da Riotur e a criação de uma subsecretaria de esportes e eventos, que poderia centralizar grande parte dos eventos da cidade. Meu Rio volta a sorrir, timidamente mas com a virtude de poder caminhar com força total para um momento de reflexão, operação e mudança.