Hoje, 22 de agosto, o Brasil celebra o Dia Nacional do Folclore, uma data a ser festejada por todos quantos veem na cultura a argamassa da sociedade, sendo este o Mês do Folclore, que, em nosso país, é diversificado e rico nas suas manifestações mediante as leituras das danças, da música, das assombrações, das adivinhações, dos acalantos, das parlendas, do Sacy Pererê e dos seus congêneres no universo do imaginário popular.
Viajemos, felizes e alegremente, pelo fascinante mundo do folclore e da sua dinâmica, danças e ritmos, ditos populares, adivinhações, festas e folguedos, contos e assombrações, canções de ninar e brincadeiras infantis, e cultura popular, que formam a identidade social de um povo.
Segundo Mário de Andrade, “o brasileiro é um povo esplendidamente musical. Nosso populário sonoro honra a nacionalidade.”
Thais Garnier assegura:
“As canções de ninar, chamadas de acalanto, fazem parte do folclore e costumam pregar um misto de susto e ternura, uma espécie de vida que vence a morte, uma solidão que faz crescer, uma separação necessária. Este e outros significados, profundos e poéticos, estão presentes quando a mãe embala o filho com uma velha cantiga.”
Cantemos, então: “Nana, nenê / que a cuca vem pegar / papai foi na roça / e mamãe foi trabalhar”.
No acalanto, segundo os psicólogos, há uma espécie de zanga da mãe, sempre fadigada, cantando com letras de uma quase revolta, mas que essas expressões são imperceptíveis pelos bebês, porém o que os fazem sentir é que a música da cantoria imita a pancada de um coração, deixando a criança familiarizada com o som escutado, quando ela esteve, durante a gestação, no ventre da mãe.
Parlenda, de origem latina, deriva de parlare, que significa conversar. É sempre uma combinação de palavras com temática infantil, que fazem parte do folclore brasileiro. Passadas de geração em geração, as parlendas são rimas fáceis, usadas como brincadeira pelas crianças, cujos autores, desconhecidos, estão no anonimato.
Os trava-línguas são uma das modalidades de parlenda, representando um jogo verbal em que se deve falar rapidamente uma concentração de palavras com sonoridades semelhantes e sílabas de difícil pronúncia, a exemplo de:
O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem.
No nosso país, a tradição folclórica varia de acordo com cada região do Brasil. As principais lendas e ritos do folclore brasileiro são: Saci-Pererê, Bumba meu Boi, Iara, Boitatá, Lobisomem, Pisadeira, Mula sem Cabeça e Curupira, e todos eles são decorrentes de narrativas mitológicas dos povos europeus, como é o exemplo da Iara, uma sereia da Amazônia, que remete às sereias da mitologia grega.
No Brasil, o folclore é resultante da miscigenação de três povos (indígena, português e africano) e da forte influência dos imigrantes de vários recantos do mundo. Por isso, nosso país tem uma tradição folclórica diversificada, rica e muito peculiar. Em cada região brasileira, o folclore apresenta semelhanças e diferenças.
Neste artigo, dentre tantos ritmos e danças do folclore brasileiro, homenageio Pernambuco escolhendo o frevo, registrando o que se segue:
“Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem”. Uma dança e uma música, esta, o frevo, aquela, o passo, ambos genuinamente pernambucanos. Não há quem, diante do frenesi do frevo, não entre no remelexo do passo, sem se deixar desengonçar no desaprumo dessa coreografia eletrizante.
O frevo foi incluído, desde 2012, na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, sendo um capítulo importante da história nordestina e brasileira.
O nosso Estado não se restringe ao tríduo momesco, até porque, em função da pluralidade dos ritmos e das danças, a festa acontece antes e se prolonga nos desfiles de outras agremiações, blocos, ursos, caboclinhos, grupos de índios, bois, burras e cavalos-marinhos.
Somos a terra do frevo e do maracatu, maracatu de baque virado ou nação, como expressão do sincretismo religioso, e do maracatu rural ou de baque solto, originado na zona canavieira. Berço/pátria dos bonecos gigantes e dos papangus, um carnaval participativo consoante a cultura do chão. Por isso, entre confetes e serpentinas, lantejoulas e paetês, fantasias e máscaras, colombinas e pierrôs, pandeiros e reco-recos, zabumbas e ganzás, “frevo, capoeira e passo,” Pernambuco esplende para o mundo os seus festejos carnavalescos.
O folclore tem a força e a magia do imaginário popular, das fantasias, alcançando o mundo infantil, indo até as idades maiores.
Na infância, todos tivemos os nossos sonhos e devaneios, medos e superstições, estas ainda se mantendo no adulto, que sabe conservar, dentro de si, a criança, cujas peraltices deram asas à imaginação e à criatividade.
Quem não faz da sua vida a recriação da infância, revendo-se nos verdes anos? Ouvindo da mãe e das avós estórias de trancoso. Acompanhando príncipes encantados que suscitavam reinos imaginados, como o de Mirá-Mirá, nas terras de Mafadá. Onde ficava isso? Quem sabe essa geografia folclórica? Isso não é para desvendar. O mistério é a poesia dessas estórias, o encanto da infância transfigurada em amor. Mais do que encanto: – magia.
Quem não guardou a infância, não soube viver. Não viveu. A criança é o homem todo. A infância é um paraíso perdido, mas que pode ser reconstituído pelo nosso amor, pela vigência com que guardamos a porta do paraíso, onde cada menino é um rei.
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