Histórias e Números da Celebração que Une Religião e Cultura

As comemorações realizadas por diferentes povos pagãos europeus começaram a ser adaptadas, gerando uma aculturação festiva, a partir do momento em que o Cristianismo avançou, como a principal crença religiosa do continente europeu.

Vamos de charada? É quase impossível não acertar...

É a segunda maior festa popular do país;

No Nordeste tem feriado em algumas datas do mês de junho;

Movimenta de forma magnífica muitas economias em diversas localidades;

Tem a única quadrilha do bem, que nada lembra as formadas por marginais, lamentavelmente, tão presentes do país;

Remete as tradições de puro sincretismo religioso e cultural, em uma saudável convivência;

A diversidade culinária, com destaque para o milho e a mandioca, atiça a gula de todos nós;

Campina Grande e Caruru disputam o título de ser sede número um de sua maior representante;

E aí? Acertou???

Pois é, no mês de junho – e em muitos casos – também, julho – temos a concentração de uma das mais genuínas, alegres e musicais manifestações brasileiras de cunho religioso-cultural.

Originária do velho continente, com as Saturnálias, realizadas como forma de afastar os maus espíritos e qualquer praga que pudesse prejudicar a economia totalmente agrícola, realizada em junho, com a chegada por lá da estação do verão, ela chegou por aqui e transformou-se.

As comemorações realizadas por diferentes povos pagãos europeus começaram a ser adaptadas, gerando uma aculturação festiva, a partir do momento em que o Cristianismo avançou, como a principal crença religiosa do continente europeu.

Assim, a festa originalmente pagã foi incorporada ao calendário festivo do catolicismo associando-se as figuras de Santo Antônio (homenageado dia 13 de junho), São João (dia 24 de junho) e São Pedro (dia 29 de junho).

A introdução da festa junina no Brasil remonta ao século XVI. As festas juninas eram tradições bastante populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e, por isso, foram trazidas para cá pelos portugueses durante o período de colonização, assim como muitas outras tradições. Quando introduzida no Brasil, a festa era conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês no qual ocorre, junho.

Também conhecidas como festas caipiras, envergam usos e costumes autenticamente tupiniquins e por isso mesmo são identificadas como patrimônio imaterial da nação, pois representam uma identidade cultural rica e singular, que vem sendo transmitida de gerações para gerações, sendo muito arraigada no imaginário coletivo nacional.

Jânio Roque Castro, pesquisador, tem um trabalho (Da casa à praça pública: a espetacularização das festas juninas no espaço urbano, disponível na web) oriundo de sua pesquisa de doutorado, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que vale a pena ser conhecido e que tem um trecho que reforça a relevâncias das festas juninas para a economia de muitas localidades.

“Comemora-se o ciclo junino na casa, na rua, com a família, com amigos, em grupos, em praças públicas ou em arenas festivas privadas, a partir, sobretudo dos anos 1970, esse novo desenho das festas do ciclo junino começou a ser esboçado pela iniciativa de prefeituras, empresas, comerciantes e de segmentos dos governos dos estados como Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, que passaram a investir na espetacularização das festas juninas como estratégia de projeção midiática e turística das cidades.”

De acordo com um levantamento realizado pelo Ministério do Turismo, em parceria com as gestões municipais e estaduais, identificou-se que as festas juninas de 2023 movimentaram cerca de R$6 bilhões e atraiu 26,2 milhões de pessoas para diversos destinos tradicionais de suas celebrações.

Para 2024, esses números projetam-se ainda mais otimistas, com perspectivas de um aumento de 10% nas vendas no varejo em comparação a junho do ano passado, e 15% em relação aos outros meses do ano, sobretudo os produtos de decoração junina, aluguel de espaços para festas, consumo de bebidas e comestíveis e comercialização de roupas, além de outros setores.

De acordo um levantamento realizado pela Sympla, maior plataforma de eventos do Brasil, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os mais procurados para festas juninas até o momento. Inclusive, ao todo, mais de 1.200 eventos juninos já foram publicados na plataforma, contabilizando mais de 660 mil tickets vendidos.

Mas, como em toda história, sempre tem um vilão, há dados que dão um susto na gente, e não são mentiras, merecendo toda a nossa atenção.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) mostra que os preços dos ingredientes e insumos para o preparo dos principais pratos e quitutes tradicionais das festas juninas, em 2024, aumentaram, em média, 5,74% nos últimos 12 meses, enquanto a inflação ao consumidor medida pelo IPC-S registra aumento de 3,28% no mesmo período.

É... só nos resta pedir para os Santos, donos das festas, ajudar nossos bolsos, e nos permitir apreciar com segurança, só com balões cenográficos, pois outros são proibidos pela lei Lei nº 9.605/98, esse período tão bacana, tão comunitário, enaltecendo nossas raízes, com a nossa essência rural.

Então, bora vestir nossa melhor camisa xadrez, nossa delicada saia de chita, com babados coloridos, trançar os cabelos com fitas, pegar nosso chapéu de palha e cair na folia junina.

A gente vai aproveitar muito... e as marcas sagazes, também, porém, esse assunto é para o próximo texto... aguardem... enquanto isso, saboreie uma canjica ou se preferir, um quentão. Ou melhor, ainda, os dois!!! Os Santos certamente irão nos perdoar!