João Carlos na Praia Com A Familia

“Amanhã já é segunda-feira de novo. Toda semana é isso agora.” Garfield

Queridos leitores, finalmente a família do João chegou na praia, mas quando ele desligou o carro, todos saíram correndo para o mar, sobrando ele com sua sogra. João Carlos respirou fundo e começou arrumar o acampamento. Colocou os tapetes e as toalhas no chão em volta do carro e o que era antes uma grama amassada e quase morta, transformou-se em sala, quarto e cozinha. Dona Amélia, a sogra, como não podia ficar sem fazer nada nem um segundo, disparou a arrumar o almoço. Tinha trazido louça, talheres e um farnel digno para alimentar um exército. A maionese quando foi desembrulhada ficou um pouco comprometida, os tomates do topo ficaram tão amassados que perderam o papel decorativo. O frango assado tinha cara de estorricado o que fez João acreditar que e a ave jamais poderia ser comida com a farofa, senão entalaria na garganta, matando quem se atrevesse fazer uma loucura dessas. O arroz frio também se apresentava como não sendo a melhor coisa para se comer. João Carlos suspirou e preferiu comer só a maionese, que para ele tinha sido feita durante um terremoto.

Dona Amélia sossegou um pouco e até tirou uma soneca, mas quando acordou queria saber a que horas eles estavam pretendendo voltar para São Paulo. Maria Aparecida que conseguiu entrar no mar apenas uma vez, queria ficar mais tempo. O grande problema era adivinhar qual a melhor hora para voltar: às 15h, para serem mais “espertos” que a multidão que desceu nesse fim de semana ou deixar para ir mais tarde, para deixar todos os mais “espertos” subirem antes?

Dona Amélia como um papagaio de gaiola, insistia que eles deveriam ir embora às 15h, mas Maria Aparecida queria voltar só às 18horas. Quando chegou lá pelas 16horas João Carlos decidiu que era a hora de partir. Colocou todas as coisas no carro, tampou e amarrou as panelas que vieram com comida e com elas voltaram, dobrou todas as toalhas, enrolou o tapete e todos entraram no carro para partir. Queimados, com o corpo ardendo e colando no estofamento de “courvim” do carro, tinham a sensação de que suas peles estavam sendo arrancadas com facão. O Fusca a esta altura já estava cheio de areia, óleo e farelos de biscoitos, para tristeza do João Carlos, e assim nesse mini caos, a família Silva começou a subida da serra.

O humor de todos foi mudando à medida que sentiam o lar como algo inacessível ainda nessa encarnação. A sogra reclamou a viagem toda por causa do horário que escolheram para voltar, que segundo ela, se a tivessem escutado eles já estariam em casa há muito tempo. Maria Aparecida, que por sinal era bem parecida com a mãe, não deixou de dizer que se tivessem feito o que ela queria, eles teriam ficado em Santos, ao invés de terem ido para a Praia Grande. Quanto às crianças, Paulinho e Maria de Fátima, brigaram a viagem toda por qualquer coisa.

Os alegres e “relaxados” viajantes depois de vários banhos de mar, de que nada adiantaram, à medida que o tempo foi passando e a fila de carros só aumentava, se transformaram em pessoas desesperadas para chegar em casa. A subida pelo visto seria muito pior que a descida tinha sido. O entardecer trazia consigo uma neblina traiçoeira e o tempo de viagem estimado por João Carlos, em torno de 2 horas acabou se transformando em 6 horas infernais.

Segunda feira, João Carlos foi para o escritório preparado para enfrentar a hora do cafezinho, durante a qual os colegas faziam um relato detalhado dos seus respectivos finais de semana, onde tudo era medido, avaliado, aprovado e copiado de alguém, por alguém. Afonso tinha ido para a represa Guarapiranga, só que gastou para andar de lancha a fortuna de 10 cruzeiros novos por pessoa, só por um passeio de 15 minutos. Programa típico de 30.000 paulistanos, principalmente por aqueles que nunca tinham andado de barco ou avião. Gilberto encontrou um restaurante absolutamente incrível na Barra Funda que segundo ele, faz rã, paca, jacaré, tatu e todos os tipos de caça, como ninguém. Os restaurantes da cidade ficavam repletos nos finais de semana, independentemente da qualidade e do tipo da comida que servissem, e nem o atendimento precário desanimava as pessoas, isso porque a dona de casa já fazia algum tempo tinha decido juntos com as amigas que não cozinhariam mais aos domingos. O jeito então, era a família encontrar um restaurante. João Carlos soube que no domingo em que ele estava na praia, tinha caído uma chuvinha ralinha típica de São Paulo, acompanhada de um friozinho que pedia uma sopa. Então Murilo contou que pegou a família e foi tomar uma sopa de cebola no CEASA em meio a montanhas de verduras e frutas que ficavam à espera de compradores nesse monstruoso centro de distribuição. Vários dos seus colegas foram ao cinema e depois foram tomar um cafezinho no Aeroporto de Congonhas com a família para ver o pouso e a decolagem dos aviões. Depois foi a vez do João Carlos contar como tinha sido o seu final semana, claro que editado para transformá-lo no passeio dos sonhos.

A alta sociedade e a classe média alta paulista nessa mesma época tinham como forma de lazer se envolver em jantares beneficentes e eventos de arte de vanguarda como Bienais de Artes Plásticas. Para bronzear havia o sol do Guarujá, onde descansavam das noitadas no Jequitimar ou em outras boates em voga. No inverno fugiam todos os finais de semana para as suas casas na montanha, em Campos do Jordão. E quando os milionários passavam os finais de semana em São Paulo frequentavam os Clubes Harmonia e Paulistano enquanto a classe media alta ia para o Clube Atlético Pinheiros.

As classes sociais não se misturavam nas suas formas de lazer. Tudo era muito separado, fosse nos restaurantes, nos clubes, nos cinemas, nas lojas e até mesmo nas Igrejas.

Desfile da FENIT em 1962
Desde que o Caio inaugurou sua primeira Feira em 1958, elas passaram a ser o passeio favorito da família do João Carlos, e de todos os brasileiros de todas as classes sociais. “Você não era ninguém” se não tivesse ido à Feira da Alcantara Machado que estivesse acontecendo no Ibirapuera, para ficar a par das novidades, desde as utilidades domésticas como na UD, ou para ver os desfiles das manequins lindíssimas da FENIT, ou para conferir os últimos lançamentos da Indústria Automobilística no Salão do Automóvel, ou para levar os seus filhos no Salão da Criança. O sucesso das Feiras da Alcantara Machado era tão grande que durante os seus 15 dias de duração, elas recebiam em média de 70.000 a 80.000 pessoas diariamente, e nos finais de semana o movimento crescia 30% a mais.

Jacques Maillochon um dos diretores da Alcântara Machado, “concordava” com os vários João Carlos, e numa de suas entrevistas falou ao jornal: “que uma família de 5 pessoas, composta de dois adultos e três crianças gasta muito menos e se diverte muito mais em qualquer Feira da Alcantara Machado do que se fosse a um cinema, ou viajasse para fora de São Paulo. Isso porque, apesar da entrada ser mais cara do que a do cinema (NCr$ 2,50 cruzeiros novos para adultos e NCr$ 1,50 cruzeiros novos para crianças) há muita coisa para se ver, e várias atrações para todos da família participarem, e a tarde passava sem sentir”. Segundo Maillochon “15 cruzeiros novos são suficientes para que uma família de 5 pessoas, somando-se o preço dos ingressos e pequenos gastos no interior do salão, dão para se fazer a festa”.

No catálogo da V FENIT de 1962, o número de atrações e as possibilidades de negócios permitiram que as Feiras da Alcântara Machado fossem consideradas oficialmente acontecimentos turísticos. Já nos primeiros dias de 1969 a FENIT, foi apontada pela revista Indústria e Desenvolvimento como sendo uma das maiores atrações turísticas do País, responsável pelo crescimento do turismo de negócios em São Paulo.

Alçadas à categoria de eventos culturais e comerciais, mas sobretudo como um ponto turístico obrigatório para ser visitado, as Feiras atravessaram uma década, festivas, coloridas e animadas, oferecendo diversão, entretenimento, informação e cultura. Por causa disso, em 1971, Caio recebeu o “Prêmio Bandeirante do Turismo”, concedido pelo Sindicato dos Hotéis e similares de São Paulo.

João Carlos de posse de todas essas notícias, que por diversão, colecionava como se fosse um amigo íntimo do Caio, comentou com os amigos, que ele iria construir um altar na sua casa, para colocar esse santo Dr. Caio de Alcântara Machado, pois desde que ele inventou as tais Feiras e ele passou a frequentá-las religiosamente com sua esposa e filhos, a paz e a tranquilidade voltaram a reinar na sua família, e os fins de semana se tornaram memoráveis. E lá, nas Feiras, completou João Carlos, “não existe o perigo da gente não se divertir, a coisa é tão bem-feita que se a gente perde um show num estande, tem outro começando num outro lugar e o que é o melhor de tudo, não existe o perigo da gente sair frustrado”.

O número de atrações que cada Feira da Alcantara Machado proporcionava para os visitantes, fosse na FENIT, UD, Salão da Criança, e outras mais, batiam qualquer forma de lazer em São Paulo, além de tudo, foi a infra estrutura bem cuidada de todas elas, que além de todas as atrações foi o que permitiu que fossem consideradas também um acontecimento turístico. O que Caio lutou para acontecer: o nascimento do turismo de negócio.

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Encontros com Caio
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