Magno Martins, amigo e companheiro de jornadas no plano estadual, foi de uma perspicácia imensa nas pesquisas e prospecções feitas a respeito da vida de Marco Maciel, o homem-família, o político-cidadão. Ele entregou ao Brasil uma biografia assinalada por minúcias que retratam quem foi o biografado, seus exemplos, sua forma de ser e seu legado.
Esse livro se associa a outros dois editados e amplamente divulgados, um de autoria de Rivaldo Paiva, Marco Maciel: uma história de poder, e outro, do acadêmico Ângelo Castelo Branco, Marco Maciel: um artífice do entendimento.
Magno Martins, em boa hora, acrescenta e forma essa tríade, que, apesar de excelente, ampla e fecunda, ainda está longe de esgotar o inesgotável. Lendo os três volumes, percebe-se uma linearidade nos estudos primorosos sobre o homem público, professor de Direito Internacional, escritor, acadêmico estadual e federal, multifacetado nos seus saberes.
O estilo é o homem, segundo o escritor francês Buffon, frase repetida por Marco Maciel, definindo o estilo como um traço forte da personalidade e do caráter do ser humano. Não sabia ele que estava falando de si mesmo, conforme deixa claro, com muita nitidez, Magno Martins, que exalta, no seu biografado, o estadista, que precisa ser estudado e assimilado pelas novas gerações, para que o Brasil faça desse seu grande mestre de Pernambuco uma permanente lição de honradez e lucidez.
O que dizer, neste Brasil, de um político após o seu desenlace deste mundo? De Marco Maciel, o que todos conhecem e reconhecem: foi um sacerdote a serviço do bem comum. Homem probo, de quem nunca ninguém ousou, nem mesmo nos arroubos das campanhas eleitorais, insinuar tivesse partido dele qualquer ato ilícito, qualquer gesto grotesco, um deslize que fosse na sua conduta de cidadão, tendo sido um ser humano que nunca se exauriu na prática do bem.
Magno Martins traça o retrato de corpo inteiro de Marco Maciel, inclusive registrando o seu apelido “Mapa do Chile,” comprido e estreito. Segundo Magno, associando-se sua magreza à sua discrição, brincava-se em Brasília, que Maciel era tão magro e tão discreto, que quando estava de frente, achava-se que ele estava de lado; quando estava de lado, achava-se que ele já tinha ido embora.
Mas o livro foca Maciel, sobretudo na sua essência, na sua natureza, nos causos, todos verdadeiros, de um Maciel discreto, insone, trabalhador incansável, obstinado na sua pernambucanidade, a ponto de encontrar, à semelhança de Joaquim Nabuco, no “arrocho do berço”, a sua inspiração, conforme gostava de repetir.
Cultuar a sua vida é transmitir às pessoas, em especial às novas gerações, lições de amor às causas sociais, à sua gente, à sua cidade, ao seu Pernambuco e, por extensão, ao Brasil, uno e indivisível. “A pátria começa na terra onde se nasce”, gostava de exaltar.
O Estilo Marco Maciel desenha, com nitidez, as características de ser leal e discreto, conferindo, na avaliação de Fernando Henrique Cardoso, o perfil de “vice dos sonhos”. Segundo Fernando Henrique, Maciel nunca praticou algum ato do qual ele discordasse. Nunca lhe deu trabalho. Nunca tramou contra ele. Este testemunho enche de gáudio os chamados macielistas que exultam diante da imagem do seu líder projetada em verdadeira grandeza.
Muito me orgulho de ter sido seu assessor nos seus dois mandatos de vice-presidente, quando testemunhei, de perto, o homem e o político, o gestor zeloso dos seus atos, o seu amor à família, à esposa Anna Maria, aos filhos e netos. Enfim, a sua permanente dedicação às coisas e às causas de Pernambuco, repito, sua obsessão, a sua pátria, o seu idealismo, a sua profissão de fé.
Marco Maciel, quanto mais caminha no tempo, vai, à Camões, por suas obras, da lei da morte se libertando.
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