Que as Olimpíadas são o maior evento do planeta, isso todos sabemos. Mas ser testemunha ocular do real tamanho do evento é outra história. Acreditem, a Olimpíada é um evento muito grande, com uma logística extremamente complexa, já que, além dos funcionamento das arenas e das especificidades que cada esporte exige, ainda deve-se pensar em toda a logística de transporte, deslocamento, segurança, hospitalidade, e um sem fim de outras questões. Há quem diga que a mobilização exigida por uma Olimpíada só perde para uma guerra. Mesmo sabendo de todo esse gigantismo, de fato fiquei surpreso com o real tamanho do evento. Por conta da realização da pesquisa do Observatório do Turismo da Universidade Federal Fluminense com os turistas, pude testemunhar, de bem perto, e, também, ouvir as opiniões, do que funcionou e o que não funcionou nas Olimpíadas até aqui. É um relato de um profissional que trabalha na área de turismo, mas também de um espectador residente na cidade.
A segurança e o transporte talvez tenham sido os pontos mais críticos em relação à organização do evento. No Parque Olímpico da Barra e Deodoro e no Boulevard Olímpico com menor intensidade, mas na região de Copacabana tivemos muitos relatos de roubos e furtos. Uma turista foi furtada enquanto era entrevistada por um de nossos pesquisadores ao lado da arena de vôlei de praia de Copacabana. Fora outros episódios, inclusive com atletas, que foram lamentáveis e demonstraram que a questão da segurança continua a ser um problema dos mais graves. Especialmente para os moradores, que depois que o espetáculo acabar vão continuar sendo afetados por ele.
Em relação ao transporte, apesar de todo o esquema montado pela prefeitura, todos sofreram, turistas e residentes. No caso dos turistas, muitas placas eram apenas em português. Além disso, as informações fornecidas pelos voluntários eram pouco precisas, isso quando sabiam das informações. Em Deodoro, por exemplo, o caminho do metrô até as arenas era bem distante. Sem contar que a acessibilidade era bastante precária. Havia ônibus de transporte para necessidades especiais, mas a sinalização sobre onde pegar o transporte era, igualmente, pouco acessível. Para os moradores, as constantes mudanças no trânsito careceram de maior divulgação. Os trajetos originais feitos pelos ônibus mudaram muitas vezes sem que houvesse ampla divulgação antecipada de como essas mudanças se dariam.
As arenas todas funcionaram muito bem. Tanto os parques olímpicos da Barra e Deodoro, como as estruturas de Copacabana e da Marina da Glória foram todas muito elogiadas pelos turistas. A exceção ficou por conta do tiro com arco, no sambódromo. A estrutura, além de ter ficado isolada das outras modalidades esportivas, sofreu com problemas como falta de água e falta de outros atrativos, como fan fests e shows.
Um dos pontos altos do evento foi, sem dúvida nenhuma, o Boulevard Olímpico, ponto de encontro de turistas e residentes. Um verdadeiro caldeirão multicultural, com muitas atrações, vários telões espalhados pelo caminho e muitos shows. A cidade se encontrou lá. Um espaço com 3,5 km de extensão com muita coisa para ver e fazer. Realmente uma celebração do encontro.
Poderíamos apontar muitas coisas que não deram certo nessas Olimpíadas. Contudo, a percepção que tenho é que acertamos mais que erramos. Especialmente se considerarmos a conjuntura atual da sociedade brasileira, em meio à uma grave crise econômica e política. No entanto, fica a preocupação de como aproveitaremos toda essa visibilidade, especialmente em relação ao turismo. Questões como a demanda turística no pós-olímpico, a segurança na cidade, a resolução da crise política e econômica, todos os problemas sociais, que não são poucos, continuam na pauta de discussão esperando soluções urgentes. São muitos os problemas, que, sabemos, exigirão grande esforço de toda a sociedade na busca de soluções. Por enquanto, a uma semana de acabarem os jogos, vale a pena continuar vivendo essa alegria olímpica única, como se fosse um sonho bom, em meio a tantos pesadelos reais.
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