Quando o Carnaval tarda, o país padece

Editorial publicado na newsletter EVENTOS News 116

No Brasil, o ano só começa depois do Carnaval, e quando ele tarda a acontecer, o país padece.

Talvez o maior espetáculo da Terra, certamente o mais importante do Brasil, o Carnaval movimenta milhões de pessoas através do país, uns atrás dos grandes eventos realizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife etc., outros buscando momentos de tranqüilidade nas praias de Aracaju, ou num dos muitos hotéis que fazem do não-carnaval seu maior atrativo.

As imagens transmitidas para o mundo todo, seja dos grandiosos desfiles dos Carnavais de São Paulo e do Rio de Janeiro, seja dos cordões com milhares de foliões percorrendo festivamente as ruas de Salvador e Recife aguçam o desejo de conhecer e viver pessoalmente esta experiência única e trazem ao Brasil milhares de turistas.

Nascido das raízes culturais mais autênticas, o Carnaval brasileiro em suas diversas manifestações transformou-se no decorrer do tempo num dos maiores fenômenos turísticos mundiais, com grandes inferências econômicas, acrescidas nos últimos anos pela crescente ocupação de espaço pelo marketing promocional, que múltipla a repercussão do evento e sua importância econômica.

As festas crescem, artistas despontam e os problemas se multiplicam.

Evento sem data certa no calendário, o Carnaval ora ocorre no começo do fevereiro, ora em marco, por vezes em meados de fevereiro, sempre acompanhando o período da Quaresma – tempo de resguardo preconizado pela Igreja Católica, que justificava no passado os dias de festas e destemperança que o antecediam.

Apesar de muitos ainda acharem que se trata do calendário religioso, o Carnaval, desde sempre, foi uma festa pagã, tolerada pela Igreja. Hoje, justifica-se o descolamento do Carnaval do calendário religioso.

Sem data fixa, a organização do evento fica prejudicada, principalmente se considerarmos a crescente importância de seus aspectos promocionais, que exigem rígida programação. Mais do que isso, considerando a tradição da economia nacional aguardar o Carnaval para deslanchar, quando o mesmo tarda, o país permanece em compasso de espera.

Se muitos pensavam que o Turismo brasileiro seria beneficiado com uma eventual extensão da alta estação, os desastres observados este ano e, mais ainda em 2003 quando o Carnaval caiu em março, foram a pedra que esvaiu de vez mais esta vã ilusão. Enterrado entre janeiro e o carnaval, fevereiro transforma-se num enorme mico, com cidades nordestinas e do sul amargando as mais baixas taxas de ocupação de sua história.

Explica-se: o mercado turístico vive de turistas que viajam em busca do lazer, principalmente nos períodos das férias escolares (janeiro) ou de grandes feriados, sendo o Carnaval o maior deles, e turistas que viajam a negócios – trabalho e eventos.

Enforcado entre a alta temporada e o Carnaval, nos anos em que a Festa de Momo ocorre no final de fevereiro ou começo de março, o turismo de negócios não acontece (e o de lazer, menos ainda!) e os hotéis, restaurantes, enfim toda economia que gira em torno do turismo, permanece as moscas.

Se isso não bastasse, todo o resto da economia nacional também resta prejudicada pelo compasso de espera em que empresas e cidadãos permanecem. Afinal, já ensina antiga tradição, não custa repetir, o ano só começa depois do Carnaval.

A solução é simples, basta ter coragem!

Porém, se isto se constitui problema, sua solução é simples e sua execução só exige coragem e decisão política para romper os grilhões desta antiga e, hoje, injustificada tradição, fixando o Carnaval no primeiro final de semana de fevereiro - de forma definitiva.

Sergio Junqueira Arantes
Sergio@ExpoEditora.com.br
Editor do PORTAL EVENTOS e das revistas EVENTOS e MAKING OF
Academia Brasileira de Eventos (Cadeira 1)
Vice-presidente da Anetur - Associação Nacional dos Editores de Turismo

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