Caminhos para o Turismo Esportivo foi o tema do seminário realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por meio de seu Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur), na sede da entidade, no Rio de Janeiro, na última segunda-feira (19). A abertura do evento foi feita pelo presidente do Cetur/CNC e da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Alexandre Sampaio, que ressaltou o papel do Conselho como fórum de discussão sobre os assuntos de impacto no turismo como atividade econômica.
A fala de Sampaio foi seguida de uma palestra com o secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Luiz Lima, que falou sobre como o esporte de elite pode contribuir para o turismo esportivo. Ele ainda observou que o Brasil tem um potencial natural para a prática de atividades físicas e cada vez mais cresce o número de praticantes de esportes ao ar livre. Segundo Lima, "não é possível estimular o crescimento de investimentos em grandes eventos esportivos sem que a própria população esteja praticando essas atividades físicas".
Produtos do Esporte com potencial para o Turismo
No primeiro painel, mediado pela professora Maureen Flores, os palestrantes debateram o desenvolvimento de produtos turísticos relacionados ao esporte. Caio de Carvalho, ex-ministro do Esporte e atualmente no Grupo Bandeirantes de Comunicação, afirmou em sua participação que a ligação entre Turismo e Esporte não necessariamente precisa de investimentos do governo, uma vez que empresários acabam cumprindo esse papel por meio dos eventos.
No entanto, segundo ele, motivar as pessoas e desenvolver a prática de atividades físicas entre a população é fundamental. “Temos uma população sedentária pelo País e ao mesmo tempo nos importamos com o esporte de alto rendimento. Poderíamos ter um grande investimento em qualidade de vida e prática de esporte para a população”, completou.
O presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Waldner Bernardo, apresentou os números do automobilismo no Brasil. Segundo ele, apesar de a Fórmula 1 ser a primeira coisa que vem à cabeça quando o assunto é automobilismo, o segmento é um campo extenso que atrai investimentos e movimenta financeiramente os locais onde as provas são realizadas. “O automobilismo brasileiro acontece de norte a sul do País, com provas que envolvem rali, kart, esportes de velocidade por terra ou por asfalto. Temos a Stock Car, que gera R$ 144 milhões em movimentação financeira nas doze cidades que recebem a corrida, além de 1.200 postos de trabalho. Também temos a Fórmula Truck, que movimenta muito mais a cidade de Caruaru (PE) do que as festas de São João. No entanto, são as festas que são mais conhecidas do público”, disse Bernardo.
Bebeto de Freitas, secretário de Esporte e Lazer de Belo Horizonte, destacou a importância de se investir em atividades físicas nas escolas e também nas cidades. Ele citou as iniciativas da capital mineira, com a reabertura de parques e a devolução à população. Além disso, falou da parceria com clubes da cidade para que eles abram suas portas para crianças da rede municipal de ensino. “Confundimos muito esporte e atividades físicas. Esporte é consequência da atividade física”, completou.
Finalizando o painel, João Traven, da Spiridon, uma das realizadoras da Maratona do Rio de Janeiro, falou do impacto da competição na economia e no turismo da cidade. Só em 2017, participaram mais de 33 mil pessoas, o que trouxe uma movimentação de mais de R$ 200 milhões para a cidade.
Cerca de 91% dos corredores manifestam a intenção de participar das corridas no ano seguinte. Para Traven, algumas ações em parceria com hoteleiros e empresários de bares e restaurantes poderiam fazer o crescimento ser muito maior. “No ano que vem, a previsão que nós temos é de 50 mil pessoas participando da corrida. Os empresários podem ser nossos parceiros e aproveitar a oportunidade para estimular o crescimento do impacto que o evento terá na cidade”, concluiu.
Big Data pode impulsionar turismo esportivo
O segundo painel do seminário tratou sobre a importância do big data e a sua interpretação para o planejamento de eventos e atividades em um mundo conectado. Segundo o professor Fábio Porto, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), o cruzamento dos dados disponibilizados permite que se veja com clareza algumas previsões que podem basear atitudes que podem ser tomadas.
O professor apresentou o SAHA (Sistema de Apoio Holístico ao Atleta), que funciona no laboratório do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e aplica os dados coletados para melhorar o desempenho de atletas de alto nível. Fábio Porto também deu o exemplo de um aplicativo que cruza dados do Flickr, a partir de fotos de turistas, gerando roteiros turísticos específicos, e completou sua apresentação ressaltando que o uso de grandes volumes de dados para tomadas de decisão aumenta a precisão e permite avaliar cenários. “Hoje, conhecimento é chave para o sucesso, e o conhecimento está nos dados. O que é preciso é saber extrair esse conhecimento dos dados”, completou.
Michael Nagy, presidente do Rio Convention & Visitors Bureaux, explicou o trabalho da entidade na captação de eventos para o Rio de Janeiro. Michael afirmou que o planejamento estratégico é a principal ferramenta e que coordenar um calendário de eventos é fundamental para o funcionamento do turismo. “A iniciativa privada se sentiu alheia ao planejamento estratégico do governo para a Olimpíada e precisou se organizar de forma independente. Estamos trabalhando um projeto chamado Rio 2020. Nossa preocupação é que o Rio chegue onde cidades como Sidney e Barcelona chegaram. Temos a obrigação de olhar o futuro”, esclareceu.
Encerrando o painel, Mirko Lalli, CEO da empresa italiana Travel Appeal, mostrou, por videoconferência, como os dados podem impactar a escolha de um destino turístico e como eles funcionaram em cidades como Florença e Veneza. Mirko apresentou a experiência da empresa, que trabalha com camadas de dados e analisa aspectos como restaurantes, museus, hotéis, entre outros players, dividindo-os em dois grupos: como os destinos são percebidos pelos viajantes e como eles se comunicam. A partir daí, é possível fazer as adaptações necessárias para satisfazer a experiência do viajante.
Ele falou também de cidades como Vancouver, Barcelona e Sidney, que conseguiram aproveitar eventos olímpicos realizados para se projetar como destinos turísticos. Mirko analisou ainda o perfil do novo turista, que está inteiramente conectado, procura as informações sobre os destinos e planeja as atividades antes mesmo de chegar ao local. “A prioridade desses superturistas é a conectividade, a disponibilidade do wi-fi, por exemplo. Isso já podemos prever nos dados e implementar a experiência do viajante”, afirmou Mirko.
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