A contemporaneidade é caracterizada por uma rede complexa de influências interpessoais que permeiam diversas esferas da vida social, moldando as escolhas individuais e coletivas em uma variedade de dimensões, como o âmbito social, emocional, financeiro, espiritual e cognitivo. Essas influências desempenham um papel crucial na dinâmica do consumo e na interação com o ambiente digital, ampliando as fronteiras da influência interpessoal tradicional para novos territórios mediados pela tecnologia (Kahneman, 2012; Wu, 2016). Nesse cenário em constante evolução, surgiram os nudges - pequenas intervenções que visam influenciar sutilmente as escolhas das pessoas, preservando sua liberdade de decisão e buscando benefícios conscientes ou inconscientes para si mesmas ou para grupos (Kahneman, 2012; Thaler & Sunstein, 2021). O uso dos nudges, que ganhou destaque em diversas áreas, também encontrou aplicação no setor do turismo, onde se procura influenciar o comportamento dos turistas de maneira não intrusiva (Juvan & Dolnicar, 2017; Souza-Neto et al., 2022).
No entanto, apesar do crescente interesse nos nudges, uma lacuna de pesquisa ainda persiste, especialmente no contexto do turismo de natureza, que abrange aspectos fundamentais, como a conservação da natureza, o envolvimento da comunidade local e a interpretação ambiental (TIES, 2016; Fennell, 2020). A interpretação ambiental (IA) surge como um elemento essencial do ecoturismo e do uso público em áreas naturais protegidas, pois desempenha um papel fundamental ao fornecer informações sobre a biodiversidade, os ecossistemas e as questões ambientais relacionadas a esses locais. Além disso, a IA contribui para a valorização da experiência dos visitantes e para a sensibilização em relação a questões ambientais, culturais e sociais, promovendo a gestão sustentável dessas áreas (Tilden, 2008; Ham, 2013).
Em meio a esse contexto desafiador, a presente pesquisa se propôs a investigar se os nudges poderiam influenciar o interesse dos visitantes em áreas naturais protegidas por conteúdos interpretativos. O estudo foi conduzido no Núcleo Engordador do Parque Estadual da Cantareira, situado em São Paulo, uma grande metrópole latino-americana. Esta escolha de cenário é particularmente significativa, pois difere das localidades remotas frequentemente abordadas em pesquisas anteriores sobre o interesse em temas ambientais (Mello & Caon, 2016; Araújo & Nunes, 2018; Santos & Serrano, 2020). Portanto, esta ampliação do escopo de análise promete contribuições valiosas para o campo do turismo de natureza. Com isso, corroborou-se a sugestão de Dolnicar (2020), que estimula a mescla da pesquisa em turismo com conceitos comportamentais, para produzir conhecimentos de terceira ordem, baseados em evidências empíricas de confiança, os quais podem levar ao aparecimento de novas descobertas teóricas.
Para orientar nossa investigação, utilizou-se a tecnologia móvel, uma parte essencial da rotina dos visitantes da área de estudo, especialmente durante atividades de lazer e viagens (Santos & Santos, 2014; Bairral, 2018). Partindo do pressuposto de que o interesse em ler um QR code instalado na entrada de uma trilha está associado a um maior desejo de obter informações sobre a interpretação ambiental, foi investigado também se os nudges de norma social seriam mais eficazes do que as perguntas diretas na promoção desse interesse.
Nesse contexto, a presente pesquisa visa identificar um direcionamento comportamental de busca de informações sobre interpretação ambiental estimulado por nudges, com o apoio da tecnologia móvel, em visitantes de áreas naturais protegidas. Esta investigação não apenas aborda uma lacuna na literatura existente, mas também oferece insights valiosos e inovadores sobre a eficácia das intervenções comportamentais e tecnológicas na promoção do engajamento dos visitantes com questões ambientais, contribuindo, assim, para a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. Por fim, ressalta-se a necessidade de futuras pesquisas para avaliar a aplicabilidade dessas abordagens em diversos contextos e localidades.
Saiba mais em https://revistas.usp.br/rta/article/view/218129
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