O título em epígrafe dá nome ao livro que, com arte e talento, pesquisa e cultura, retrata o romance da República de 1817, de autoria do escritor e jornalista Paulo Santos de Oliveira, que, segundo a acadêmica Luzilá Gonçalves Ferreira, “é um assombro de pesquisa e se quer ao mesmo tempo romance e obra de referência histórica”.
Esse livro deveria, de há muito, ser adotado nas escolas públicas e privadas de nosso Estado. O texto, de estilo leve e agradável, relata os fatos e feitos de 1817. Na palavra abalizada de Oliveira Lima, foi uma revolução de padres, formados e ordenados no Seminário de Olinda, de onde também saiu Frei Caneca, herói de 1817, que faria mais tarde a Confederação do Equador de 1824, seria a sua principal vítima e o maior defensor dos direitos humanos, na sua época.
Toda a trama se passa com o namoro, há 4 anos proibido, entre Domingos José Martins, capixaba, chefe da Revolução Republicana e Constitucionalista de 1817, e Maria Teodora da Costa, filha de um português, riquíssimo, Bento José da Costa, que traficava com escravos.
O rapaz, conforme está na trama, era bem apessoado, maçom, boa situação de vida, inteligente, culto, dono de qualidades para ser bom partido, na época, um excelente partido. Todavia, era impedido de namorar com Maria Teodora, simplesmente por ser brasileiro, ao contrário da candidata que era filha de um português abastado, situando-se um e outro em segmentos diametralmente afastados pelo preconceito e pela discriminação, que predominavam de forma arraigada e com marcas severas da intolerância.
O rapaz comanda a Revolução, põe abaixo o Governo, para, na semana seguinte, trocar as alianças com Maria Teodora, num matrimônio considerado um enlace festejado pela comunidade, celebrado no Brasil.
Durou, portanto, o espaço de uma semana, gerando o momento mais efusivo de 1817. Caiu por terra um preconceito, originando um conceito: que deu dimensão política a uma festa, a mais importante do Brasil, porque fez um enlace pouco comum, o de uma família abastada assistir a um casamento que conturbou os costumes, contrariando o fato de a família rica, fugindo aos princípios norteadores da época, escolher, segundo as suas conveniências políticas, econômicas e sociais, o noivo de sua filha.
Esse casamento, de pouca duração pela morte-castigo do noivo, fruto de puro e verdadeiro caso de amor, resume o espírito de Revolução Republicana e Constitucionalista de 1817, que, vencendo, com a Independência em 1822, vence, antes, intuindo o sentimento republicano de uma sociedade que rasga perspectivas à vida coletiva, movida pela liberdade de escolha, ao sentimento do sonho e do amor.
O livro está na quarta edição, de há muito consagrado, não somente pela crítica nacional, mas também pela produção do filme 1817 – A Revolução Esquecida, dirigido pela cineasta Tisuka Yamasaki, que se baseia no romance A Noiva da Revolução, aqui comentado, mesmo que de passagem.
Esta ficção é uma viagem à Revolução de 1817, trazendo a lume a história de um namoro superado pela resiliência, que também foi lição de bravura patriótica, fidelidade ao amor e à Pátria, duas convergências, um só compromisso.
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