FESTIVAL DE DANÇA DE JOINVILLE, UM RESGATE DE ALMA
Este ano o Festival de Dança de Joinville completa 40 anos. Quantos eventos da área de cultura você conhece com essa idade? Sem mencionar o fato de que, levar adiante um evento cultural de grande porte, em qualquer parte do mundo, em especial no Brasil, exige muito mais que resiliência. Exige esforços contínuos, direcionados, sempre motivados pelo encantamento. Existem poucos eventos com este perfil: vale destacar no Brasil o Festival de inverno de Campos do Jordão, já com 52 edições. Pelo mundo, o Festival de Edimburgo na Escócia (1947) e o Festival se Avignon na França (1947). Pessoalmente, além do Festival de Dança de Joinville, conheci o Rossini Festival, da área de música, em Pesaro - Itália. Vou te contar a experiência e você poderá entender a comparação, bem como vou arriscar e passar algumas sugestões na perspectiva da gestão estratégica governamental.
O FESTIVAL DE DANÇA EM NÚMEROS
O evento atrai número superior a 10.000 mil participantes, que vem a Joinville em busca de aprimoramento técnico, apresentações, competição e um público presencial de 300 mil pessoas, com alcance total de 855.294 mil pessoas no Instagram e Facebook e 240.300 mil pessoas que assistiram as apresentações via transmissão simultânea na web. É reconhecido pelo Guinness Book desde 2005 como o Maior Festival de Dança do Mundo. Como fazer com que o seu evento tenha estes números? Não tem fórmula mágica mas, sem dúvidas, um dos fatores-chave do sucesso é o planejamento. Junta-se isso ao fato de que sempre trazem novidades, alinhados aos objetivos sustentáveis da ONU. O incentivo para a prática da dança tira muitas crianças em situação de vulnerabilidade, direto para os palcos, vide a história do Bolshoi em Joinville.
Neste contexto, desenvolvemos para o board do Festival dois projetos que estão em fase de implantação e planejamento: um é o que diz respeito às novas oportunidades de negócios para o evento e outro diz respeito à promoção internacional do Festival, respectivamente. No primeiro projeto deixamos claro que, o evento, além de ser em essência, Cultural, é por consequência, Turístico. Por conta disso, a importância e aproximação com o trade turístico. No segundo projeto, busca-se aumentar o ticket dos participantes, o olhar é pelo visitante latino americano apreciador da arte. São projetos inovadores e que pretendem aproximar cada vez mais o evento da comunidade e das pessoas interessadas em ter experiências únicas, na qualidade de visitantes.
ROSSINI ÓPERA FESTIVAL X FESTIVAL DE DANÇA DE JOINVILLE
Quando eu estava estudando na Itália, tive a oportunidade de entrevistar para a minha Dissertação de Mestrado o Sr. Máximo Marriotti, Diretor Geral do Rossini Ópera Festival, evento grandioso na área de música. Ele me contou que a universidade fez uma pesquisa para mensurar o impacto econômico do evento na cidade. Um dos dados levantados foi que, a cada um euro investido, sete voltavam pra cidade em forma de impostos, empregos e melhorias. Sem contar o fato de que toda criança que quiser aprender música, sob quaisquer modalidades, têm acesso gratuito às aulas. O que isso tudo tem a ver com o Festival de Dança de Joinville? tudo. A diferença é que, na Europa, os gestores olham estrategicamente para esses dados e usam tais eventos para posicionar a cidade e melhorar a qualidade de vida da população. Não se trata, portanto, de só querer medir e colocar tudo na balança da economia, trata-se de perceber que os investimentos feitos impactam a vida das pessoas, em especial das crianças, e transcendem aos muros da cidade ou as paredes do Teatro.
Eu queria escapar da tentação de querer dar dicas, mas vou arriscar e apontar algumas sugestões, vamos lá:
Para o Município:
- Fomentem a criação de ambientes favoráveis à dança, pois o talento aflora num ambiente que colabora e instiga o surgimento de novas atividades criativas;
- Usar os saberes locais e dar projeção aos mesmos por meio da tecnologia e da interatividade pode fazer com que o Festival se expanda e ultrapasse o gueto da dança (não se trata apenas de explorar um evento de qualidade do ponto de vista econômico, mas de uma transformação social oportunizada pelo ambiente da dança);
- Não aproveitar a oportunidade de usar o título de Cidade da Dança abrirá espaço para a concorrência. Tudo o que você não fizer pelo seu cliente, o concorrente fará, já dizia Kotler;
Para o Estado:
- Temos um produto turístico diferenciado e estamos numa posição estratégica na América Latina, os hermanos já nos compram. Serão necessárias mais 4 décadas para que o Festival seja melhor divulgado?
- Que tal dar vida aos estandes de Santa Catarina nas Feiras de Turismo, nacionais e internacionais? O Festival pode colaborar e dar cor à estas iniciativas.
Para o País:
- O Festival já atingiu a sua maturidade ao completar 40 anos e está pronto para ganhar o mundo;
- Os intangíveis culturais são desafiadores mas não impossíveis de serem mensurados, vide a presença de vários bailarinos brasileiros, ou formados em Joinville nas companhias de dança mundiais. Quanto vale a presença desses artistas hoje, espalhados pelo mundo.
Pra fechar este artigo, atenção para um toque bem pessoal: num mundo tomado por inteligência artificial e positividade tóxica, estar num evento que provoca emoção e que desperta tanta sensibilidade, é uma experiência singular. Além de um show de beleza e criatividade, é como se você pudesse fazer um resgate de alma. Trata-se, portanto, de um produto turístico diferenciado, que pode ser melhor aproveitado pelos gestores governamentais da área turística. Venha entender o Festival. No mínimo, o que irá acontecer será o seu resgate de alma.
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