Avançando na terceira década do séc. XXI, o ser humano encontra-se
mais uma vez cercado por dilemas. Eles fazem parte da condição humana desde
que o primeiro homem desceu das árvores (HARARI, 2015). São consequências
naturais daquilo que chamamos de consciência.
Porém, é plausível dizer que os dilemas atuais sejam mais complexos do
que qualquer outro que o ser humano já tenha se deparado no decorrer de sua
história, impulsionados pela crise ética e moral que vivemos e pela tecnologia,
que avança a níveis inimagináveis e que podem colocar a própria condição
humana em cheque (BOSTROM, 2014; BRIEN, 2016; HARARI, 2016). São muitos
os contrastes que abastecem esses dilemas, mas podemos citar alguns: escassez
dos recursos naturais x desenvolvimento econômico, globalização x identidades
regionais, Direita x Esquerda (antigo, mas ainda muito presente), entre tantos
outros (HARARI, 2015; HARARI, 2016). Ao mesmo tempo, o capitalismo avança
e com ele a sua lógica de consumismo desenfreado, que nada mais é do que
uma ferramenta para se retroalimentar.
Nesse sentido, o turismo tradicional aparece como mais um produto
de ordem capitalista. Hordas de turistas invadem praias, campos e cidades,
gerando na teoria o desenvolvimento econômico destes destinos, em conjunto
com uma série de efeitos colaterais já bastante discutidos: degradação do
patrimônio cultural e natural, transtornos aos moradores, inflação de preços,
especulação imobiliária, acarretando o desaparecimento ou marginalização
de comunidades inteiras (a chamada gentrificação) etc. É o chamado overtourism
(excesso de turismo), como consequência direta do turismo predatório
(DODDS; BUTLER, 2019).
O cenário era esse, até uma nova classe de coronavírus chamada de
Sars-Covid-19 surgir (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE [OMS], 2020) e se
disseminar em uma velocidade assombrosa (através do próprio turismo massificado
e globalizado), paralisando o mundo em apenas alguns dias. Nenhuma
crise recente chegou perto de fazer tal estrago (GÖSSLING; SCOTT; HALL,
2020). Isso vem trazer novos dilemas.
Pode o turismo ser um dos vetores de transformação para uma sociedade
mais humana e respeitosa ao meio ambiente? É uma pergunta bastante
pertinente ao momento único que se apresenta, e uma visão mais crítica e
responsável do turismo pode auxiliar nessa resposta. Através de pesquisa
bibliográfica e análise de documentos, este estudo fornece uma breve história
do turismo para contextualizar e compreender sua importância. Portanto, este
trabalho tem como objetivo apresentar perspectivas mais humanas do fenômeno,
contrapondo-se à visão econômica e capitalista predominante, enfatizando seu
papel no desenvolvimento sustentável. É ressaltado ainda que a análise crítica
do turismo é essencial para compreender sua complexidade, sendo que essa
análise por si só já justifica a elaboração do presente texto, disponível aqui.
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