Parece que foi ontem quando estávamos imersos em uma neblina turva sem saber qual seria o futuro do setor que trabalhamos. Sem sombra de dúvida, o mercado de eventos foi um dos mais prejudicados no ano de 2020. O ano seguinte também não foi de grandes mudanças e a área responsável por 4,32% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e gerar 23 milhões de empregos, perdeu mais de 450 mil postos de trabalho, deixando de faturar cerca de R$ 140 bilhões.
As expectativas para esse ano são melhores, com quase 590 mil eventos sendo realizados até o final deste ano, de acordo com Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape). Mas muita coisa mudou de 2019 para cá, muitas empresas não superaram a crise e ficaram pelo caminho, muitos trabalhadores mudaram de área e o que era para ser “o ano da retomada”, tem se tornado uma verdadeira loucura desmedida.
O Antes
Para entender o que estamos vivendo é necessário olhar para um passado não muito distante. Se pararmos para pensar, o ano de 2020 foi realmente um divisor de águas para o nosso mercado e a retomada, que sabíamos que viria em algum momento, tem se tornado um pesadelo para muitos trabalhadores.
Em dezembro de 2019, a ABEOC Brasil divulgou dados sobre nosso setor. Neles, é possível identificar que 98% das empresas de eventos eram de pequeno porte e 46% delas enfrentavam problemas para encontrar mão de obra especializada. Isso em um ano de crescimento. Nessa mesma pesquisa é possível observar um índice de confiança empresarial bastante positivo para o ano seguinte, com 73% das empresas esperando um crescimento de faturamento em 2020. Algo que infelizmente não aconteceu.
Traduzindo em fatos, tínhamos muitas empresas pequenas que já enfrentavam dificuldades para encontrar trabalhadores. Grande parte delas, contavam com um ano superpositivo e, possivelmente, tinham isso em conta em suas ações e fluxo financeiro.
O resto da história vocês já sabem: pandemia, paralisação, cancelamentos e falências. Se antes já era complicado encontrar mão de obra, esse problema foi multiplicado por 10 e muitas dessas pequenas empresas - e desses trabalhadores- deixaram o mundo dos eventos de uma vez por todas.
O Agora
Desde 2021, como administrador, tenho notado essa dificuldade nas contratações. Colegas de mercado também compartilharam desse problema, mas o calendário ainda caminhando a passos miúdos foi permitindo que, apesar de desgastante, fosse passível de se administrar. Mas 2022 chegou e com ele um calendário muito mais apertado e pleno. A bola de neve tomou proporções catastróficas com o número reduzido de colaboradores e empresas. E as montagens das feiras desse ano tem sido um cenário triste e desalentador.
Obviamente, quem trabalha com o backstage já está acostumado a adrenalina de um pré-evento. não é - e nunca foi - um ambiente tranquilo, mas com organização era possível trabalhar sem maiores estresses. O problema, agora, é que as empresas que “sobreviveram” estão tentando compensar o tempo perdido nestes últimos dois anos com uma sobrecarga descomunal. Os trabalhadores - que muitas vezes foram contratados às vésperas- não dão conta da pilha de entregas e, mesmo para aqueles que não compartilham dessa prática, o ambiente pré-evento tem sido agoniante.
Estamos mergulhados numa atmosfera de estresse que, ao invés de recuperar o tempo (e dinheiro!) que deixamos de faturar em 2020/2021, provavelmente agravará ainda mais os problemas.
A soma dessa equação do caos constrói um futuro ainda mais incerto e nos joga outra vez num cenário nebuloso e denso, sem muitas projeções otimistas.
E o depois?
É sempre complicado definir como será o amanhã, mesmo contando com análises e dados. Como aconteceu em 2020, o cenário externo impacta absurdamente no futuro dos nossos negócios, mas não podemos negar que essa bolha que está sendo criada precisa urgentemente ser estourada.
Não podemos continuar pensando que com metade de uma equipe é possível entregar o dobro de projetos ou assinar contratos com as 700 feiras esperadas para 2022. Mais do que a nossa credibilidade como empresa e a confiança do mercado em nossas soluções, está em jogo a saúde de nossa equipe e a nossa. Enfrentamos, nos últimos anos, muita incerteza e prejuízos. Contudo, tentar abraçar o mundo nessa retomada não é, nem de longe, o melhor caminho a se percorrer. Se não pararmos para pensar e analisar o que estamos vivendo agora, o depois pode ser tarde demais.
Pedro Luis Torrano é sócio-diretor da Triart – pedro@triart.com.br e publica mensalmente nesta coluna.
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